sobre

não sei qual é o leste

gabriela pinto e giovani castelucci

no dia vinte e três de abril de 2021 nós solicitamos a 180 pessoas que enviassem, via whatsapp, registros do seu dia. enviamos, de hora em hora, 24 pedidos como “fotografe o barulho da cidade”, “descreva como sua cidade moldou quem você é” e “fotografe o leste”. 137 participantes, dos 180 que se inscreveram na chamada aberta, enviaram fotos, textos e áudios – que totalizaram 1.441 itens.

participantes de córrego do bom jesus, recife, londrina, florianópolis, queluz, osasco, mauá, carmo da mata e dezenas de outras cidades de 15 estados brasileiros passaram o dia compartilhando conosco fotos e relatos de seu dia, abrindo a porta de suas casas e dividindo conosco alimentos, objetos, sons, reflexões e memórias que preencheram aquela sexta-feira qualquer.

nosso convívio em sociedade é moldado, em grande parte, pelas nossas relações com as outras pessoas e pelas semelhanças e diferenças nos modos de estar no mundo. as cidades simultaneamente refletem e fabricam esse amálgama, e enviar o mesmo pedido para dezenas de pessoas nos permitiu conhecer diferentes localidades e ver contextos muito singulares, ao mesmo tempo que revelou fortes semelhanças em muitos registros.

uma das intenções do projeto era incentivar as pessoas a experimentarem momentos de presença naquele dia, através de pedidos mais subjetivos como observar e refletir sobre o que é o lado de fora; mais pragmáticos como listar todos os sons que estivessem ouvindo naquele momento; ou mais reflexivos como o pedido para que compartilhassem sua memória mais afetiva que a cidade proporcionou. em sintonia com o contexto contemporâneo, onde o estímulo proporcionado pelas diferentes tecnologias é constante e instantâneo, lançamos mão do aparelho que dá acesso a todas essa informações e estímulos e através de um aplicativo instalado em boa parte dos celulares sugerimos momentos de pausa, contemplação e percepção do espaço em que vivemos.

outro desejo era estimular as pessoas a (re)descobrirem ou se atentarem a ocorrências banais e corriqueiras que estão fora das telas. com a possibilidade de adentrar lares isolados de forma íntima e deliberadamente partilhada, surgiu a curiosidade para ver como seriam as diferentes caligrafias dos participantes (por isso pedimos que escrevessem à mão o nome do próprio bairro) ou se saberiam onde o sol se põe em relação à própria residência.

o título desse texto é a resposta de uma participante que nos levantou a dúvida sobre quais informações estamos priorizando saber, enquanto sociedade, em detrimento de outras. também joga luz ao fato de relutarmos a consumir ou realizar atividades que não geram resultados instantâneos, como a atualização da página da rede social com novas informações a cada clique. talvez seja frutífero sairmos do automático e refletirmos sobre a relevância de conhecer os pontos cardeais, mesmo que carreguemos o mapa do mundo inteiro em nosso bolso.

por mais que o intuito do trabalho não fosse refletir sobre o contexto de isolamento social a que fomos arrastados desde março de 2020, quando a pandemia do coronavírus assolou o mundo, as imagens e textos registram o quanto nossa dinâmica foi alterada – ao menos dentro do recorte das pessoas que participaram do projeto, que representam apenas uma fração da sociedade. ficou evidente como a relação com a rotina movimentada das cidades mudou; nossas antenas continuam ligadas, mas os estímulos que recebemos da vida urbana se reduziram ao que chega até nós dentro de nossas residências.

provavelmente em outro contexto as fotografias de alimentos (solicitadas ao meio-dia) revelariam restaurantes por quilo, marmitas ou outras formas de se alimentar fora de casa; as fotografias do chão, que pedimos às 18h30, possivelmente mostrariam calçadas, o piso do metrô ou do ônibus. no lugar dessas ocorrências, vimos muitos alimentos em fruteiras e diversos pisos de salas ou cozinhas residenciais. quando pedimos que desenhassem todos os trajetos feitos no dia, o volume de plantas arquitetônicas foi bem maior do que o de mapas das cidades. também saltou aos olhos como todos os registros parecem muito solitários: sem pessoas ao fundo, por perto, de passagem, à espera, enfim, compondo a cena mesmo que de forma indireta.

muitos de nós estamos acostumados a registrar nosso cotidiano: o que comemos, com quem nos encontramos, quais músicas ouvimos. isso proporciona uma sensação de pertencimento ao mesmo tempo que demonstra um interesse sensível na vizinhança – a da casa ao lado ou a que vive a centenas de quilômetros de distância de nós. além disso, ao compartilharmos nossa rotina com os outros é possível projetarmos aspectos que queremos reforçar sobre nossa própria personalidade.

ao nos debruçarmos nos registros recebidos, encontramos muitas histórias bonitas e informações curiosas. muitas imagens que pareciam dípticos, não fosse o fato de serem feitas por pessoas diferentes sem que estivessem vendo o par formado pela imagem de outro participante. esse site é um repositório com todos os registros recebidos.

bom passeio!

ficha técnica

esse projeto é fruto do curso de pós-graduação design gráfico e a cidade, da escola da cidade, e foi orientado pelos professores celso longo e daniel trench.

idealização e realização

desenvolvimento do site

fonte

plataforma

agradecimentos

adezenita francisca, aline valli, álvaro de lara, amanda piva, andré penteado, antônio anjo, brunno felype, celso longo, chico felitti, chico homem de melo, ciça pinheiro, claudia giovanazzi, crislayne de oliveira marques, dandara hahn, daniel trench, débora filippini, elaine ramos, eneide angela, fernando luna, francesco perrotta-bosch, gerson pinto, giovana palladini, guilherme dorneles, guilherme vieira, josé albergaria, leandro peralta, luiz gustavo telles de miranda, mariana rodrigues rezende, marina dahmer bagnati, milena nallin, paulo chagas, paulo roberto pires, renato almeida prado, renato mamede, rodrigo pinto, telma mota, thainá santos, wellington cançado e a todas as pessoas que participaram.

participantes

adriano braga de moraes, adriene caroline araújo bonifácio, amanda piva, ana cecília fonseca de melo, ana elisa teixeira, anita denari piffer, anna lerner, anna sophia oliveira bastos wassermann, arthur crispim duarte, beatriz batisteli, beatriz brito mendes, beatriz helena barbosa rodrigues, bruna marchiori souto, brunno felype simões costa, bruno brito, caluã de lacerda pataca, camila komakome, carina costa, carmen cardoso garcia, carolina carrillo, carolina delgado, carolina gonçalves mauro terra, ciça pinheiro, clara de almeida, clara varandas abussamra, claudia motta, dandara hahn, daniele senario oliveira, deia kulpas, denise saito, djavan amorim ribeiro santos, dulce palladini, eddie terzi, emiliano capozoli biancarelli, fábia raquel, fábio grellet pereira, fabiola eusebio, flora de carvalho rodrigues, gabriela amorim, gabriela glaeser soares, gabriela gonçalves osilio, gabriela momberg araujo, gabriela vitari, gabriele de oliveira souza, georgia riquelme barriga sharp, giancarlo castelucci, giovana palladini, giovana sales nascimento da silva, giovanna brites da costa, giulia sales nascimento da silva, guilherme vieira, guilherme vieira dorneles, hanna ayres burnier, hudson girundi gomes, iago henrique da silva oliveira, iasha nur oliveira salerno, isadora de andrade queiroz, jamile leite de santana, jessica harumi de oliveira, jéssica serra barreto, joão augusto lima guedes, julia d’agostini moresca, julia dos santos de pádua, juliana corrêa de salles gomes, juliana tersetri, kaique xavier, karen steinman martini, karina mayumi nonose, karina syllos, karoline barsante fernandes, karoline marques da conceição, larissa carvalho franco, leo kassab luna, leticia silva, livia almeida, livia koeche, luanna pagliuca, lucas gonçalves d’ascenção, lucas rigo yoshimura, lucas ruiz, lucia helena de menezes castelucci, mainara prado pereira araújo, manuela dalbertas gomes de carvalho, marcel cabral couto, marcella pederneira, marcos assis piffer, marcos henrique alves moreira, maria luisa nasser, maria otávia moui prim, maria raquel rangel frança mota, mariana de albuquerque, mariana rodrigues rezende, mariane rubinato, mariane takahashi christovam, marina ayumi onoda, marina da silva, marina schiesari, matheus fontes escobar, matheus mello, max eduardo guido rebello, milena nallin, miriam aparecida chaves pires nallin, monica schoenacker, nara coló rosetto, paloma durante, pamela alves, patricia delgado da costa, paulo von poser, pedro brucznitski, pedro gomes barroca xavier, pedro henrique de abreu martins, pedro norberto, pedro oliveira pimenta, red bischoff, renata de paula fonseca palladini, renata lehr moroni, renata willmann de mattos santos, renato brito de castro mamede, renato rocha, ricardson ricardo, ritiélly ribeiro fritegotto, roberta scharcow de vargas, rodrigo de borba gondim, sylvio p c neto, tayla caetano amaral, telma alexandre mota, thomas henrique de faria cosin, tulio sousa costa, vera helena p muller, veridiana mana carloti, verônica maestre de aguiar ferreira, victor lucas nunes da costa, victor mozetto, victoria lima de carvalho, vitoria benelli vieira, vivian carolina hida rogério e viviane zerbinatti.