participante 101

Apropriação; direitos; alegria; segurança; diversidade; liberdade de expressão; (in)consciência; poesia;

Tenho como vizinha a dona Neide. Uma bolsonarista arrependida que, supostamente, votou no Amoedo. Mas é boa gente… mesmo achando nordestinos um tanto preguiçosos e os negros… “era melhor que cada um ficasse em suas terras”. Juro que não entendo esse complexo de paulistano, como se eles tivessem brotados aqui do nada: e fez se a luz! Eventualmente trocamos alimentos: os potes vão e voltam cheios. Dona Neide gosta muito de viajar… uma pena estar presa em casa agora. Quando a pandemia passar, vou levá-la na sala São Paulo. Pegou Covid-19 recentemente… achei uma pena. Havia quebrado um dos dentes, recém feito uma cirurgia de descolamento de retina e, por fim, Covid. O ano não começou bem para ela. Fiquei feliz quando comecei a ouvir sua voz novamente… já está recuperada. Logo mais ela aparece aqui na janela me oferencendo pizza, dando conselhos de plantas e dizendo que eu preciso sair mais e receber mais amigos… ela teme pela minha tristeza.

um cheiro seco, salgado. com bastante freqüência pútrido. Quando chego em casa, sinto um cheiro doce de conforto.

Ouço a tv da vizinha, os caminhões na marginal tiête. Motocicletas de entregadores de aplicativo e o meu digitar no teclado do computador sobre a cama. latidos ao fundo.
Ouço também o silêncio e uma brisa fresca.

Andar de bicicleta em segurança no minhocão e as festas de rua que tínhamos na cidade alguns anos atrás.