São Carlos, SP

26 (mas sou uma pessoa míope, então devo ter conseguido ver só as maiores rs)

Eu, alguns gatos que passam no muro, o frentista do posto de combustível, o porteiro do condomínio (nem sempre hahahaha)

Lembrei de um rap do Shawlin "Afirmação da vida" :
"A cidade tem mil e uma coisas boas de ver
De se ter, de sentir, de comprar e de vender
Porque a cidade tem vida, mas nunca ousou te dizer
Você não vive na cidade, ela que vive em você"

Lembrei também de Paulo Freire:

"A cidade se faz educativa pela necessidade de educar, de apreender de
ensinar, de conhecer, de criar, de sonhar, de imaginar de que todos nós,
mulheres e homens, impregnados seus campos, suas montanhas, seus
vales, seus rios, impregnados suas ruas, suas praças, suas fontes, suas
casas, […] deixado em tudo o selo de certo tempo, o estilo, o gosto de certa
época. A cidade é cultura, é criação, não só, pelo que fazemos nela e dela,
pelo que criamos nela e com ela, mas também é cultura pela própria mirada
estética, ou de espanto, gratuito que lhe damos. A cidade somos nós e nós
somos a cidade."
(FREIRE, 2007, p.25)

Lembrei também da clássica pergunta: "quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?"

a cidade que vivo me ajudou a moldar quem sou, pois foi aqui que descobri o que gosto de fazer. vim fazer faculdade e nesse processo conheci diversos movimentos culturais e sociais, tive vivências que expandiram a formação universitária e conheci amigos que quero sempre por perto. aulas teóricas, aulas práticas, filmes, maracatu, horta, circo, dança, coletivos de arte, festivais, tudo isso me formou não só como profissional, mas como pessoa. descobri novos brasis, novas alternativas para a sociedade, para o meu corpo e outros jeitos de olhar a vida!

Cidade com longas ladeiras pede que o corpo descubra suas vitaminas para ter força para seguir. Pede que as pausas para recuperar o folêgo sejam respeitadas e valorizadas. A chegada celebrada. E na volta, na descida da ladeira, de bicicleta, a cidade pede entrega e confiança quando as mãos se soltam do guidão
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Entre subidas e descidas há um meio. Um encontro. Um suspiro. Uma paisagem que desperta contemplação.
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A cidade me deu olhos de observar sanhaços. Fincou meu corpo na terra.

Gosto do mato mas a cidade também tem seus encantos.
A incansável busca pelo sol nas brechas
A sombra do manjericão no quintal de concreto
O carro do "caqui docinho por apenas dez reais mas traga a sua bacia"
A surpresa de topar com um sanhanço numa esquina.
A cidade e seus barulhos e seus movimentos e seus cheiros
Me revela sujeito feito de fitar naturezas.
Depois de um ano morando na roça
Com abundância de sol
Sombra de copas
Fruta do pé
Pássaro passeando livre pela cozinha.
É na cidade que me asseguro de mim

Ao lado direito, mora um casal, uma senhora e um senhor, aposentados, aprox. 75anos

Ao lado esquerdo, um casal de aprox. 45anos, um rapaz e uma moça, funcionarios publicos, com dois filhos, um estudante do ensino médio e outro universitário cursando biologia

Em frente um casal de aprox. 35anos, um rapaz e uma moça, com dois filhos aprox. 3 e 7 anos de idade

meus vizinhos são pessoas
pais e mães e avós
de um lado ouço o filho jogar videogame todo dia
de outro, os gritos da netinha que deve alegrar o jardim gigante do casal 
na frente, vejo um fusquinha e o cachorro que sai pra passear
quase todos os dias 
mas é a noite que percebo 
a algazarra da família de mamíferos
que, neste outono frio, está morando no nosso telhado

Meus vizinhos da vila:
Casa 1: tocador de sanfona e teclado. Fã de Queen
Casa 2: homem idoso que sempre repete "eu fundei o PT", tem problemas com alcool e bebe kaiser. Sente saudade da mulher que foi seu grande amor e repete as mesmas histórias sobre ela milhares de vezes
Casa 3: rapaz que trabalha com T.I
Casa 4: jovem boliviana muito bonita e simpática
Casa 5: dona de dois gatos e do cachorro que passeia sozinho
Casa 6: cara que tem uma risada escandalosa e alta
Casa 7: Um outro cara que gosta dos filmes de Bergman e precisa devolver meu livro sobre ele
Casa 9: rapaz que aos finais de semana trabalha na lanchonete dos pais.

Meus vizinhos são pessoas que precisam menos de silêncio do que eu.

Piso frio de cozinha, cor bege
Azulejos quadrados, cerca de 40cmx40cm

o chão que estou pisando é frio, de azulejos antigos, amarelos e azuis, e formam alguns padrões geométricos

O chão que eu to pisando é um chão que não se satisfaz apenas com o contato da sola dos meus pés e me convida a soltar nele todo o cansaço de um dia de trabalho, todo o desejo de uma companhia, toda dificuldade de elaboração.
O chão que eu to pisando sustenta muita coisa
Mesmo frio
Mesmo pálido
O chão que eu piso
E me deito
É um chão que me acolhe.

a musiquinha do carro de gás foi algo que me marcou muito, chamou minha atenção porque na minha cidade de origem não tinha isso, mas também pela melancolia da época, tinha acabado de me mudar e sentia muita saudade de casa.. sempre que ouço o carro do gás lembro desse momento de transição e de alguma forma isso faz parte da minha memória afetiva!

foi muito gostoso participar :) obrigada pela oportunidade!