participante 63

crescer em uma cidade sem centro me ensinou sobre perspectiva.
a cartografia de são paulo muda conforme o olhar, mapa dinâmico que nunca coincide. cada corpo produz sua própria cidade e mora nela. às vezes, finjo que o homem ao meu lado no ônibus me faz companhia, sorrio para os outros passageiros de fone de ouvido que escutam a mesma música que eu, me esforço muito para tentar sentir que todas as pessoas que fazem o
mesmo caminho que eu todos os dias, na verdade, caminham comigo. no entanto, sei que nunca chegamos a um lugar comum. eu sou o centro da minha cidade, a moça ao lado, da dela, e nenhuma das duas consta no mapa da outra. nós, habitantes, peças, centros-ambulantes, vivemos dos fragmentos de um todo que nunca foi inteiro. em que todo lugar pode ser um ponto de partida ou um ponto final.

jornal nacional
carros
água caindo
cigarras
motos
cachorro latindo
os vizinhos jantando