crescer em uma cidade sem centro me ensinou sobre perspectiva.
a cartografia de são paulo muda conforme o olhar, mapa dinâmico que nunca coincide. cada corpo produz sua própria cidade e mora nela. às vezes, finjo que o homem ao meu lado no ônibus me faz companhia, sorrio para os outros passageiros de fone de ouvido que escutam a mesma música que eu, me esforço muito para tentar sentir que todas as pessoas que fazem o
mesmo caminho que eu todos os dias, na verdade, caminham comigo. no entanto, sei que nunca chegamos a um lugar comum. eu sou o centro da minha cidade, a moça ao lado, da dela, e nenhuma das duas consta no mapa da outra. nós, habitantes, peças, centros-ambulantes, vivemos dos fragmentos de um todo que nunca foi inteiro. em que todo lugar pode ser um ponto de partida ou um ponto final.
cheiro de frio e tabaco
jornal nacional
carros
água caindo
cigarras
motos
cachorro latindo
os vizinhos jantando